domingo, 8 de novembro de 2009

BB – Sirlei, você esperava vencer o concurso estadual?

Sirlei - Não. Eu imaginava que ficaria entre as cinco, mas não esperava ganhar, foi uma grande surpresa.

BB – O que contou a seu favor na disputa pelo título?

Sirlei – Acho que foi a entrevista. Eu me sai bem na entrevista, pois eu me preparei, estudei muito para responder às questões.

BB – Você praticamente foi sozinha, na raça e na coragem, para disputar o título, teve ajuda apenas da sua família. O que você acha disso?

Sirlei – É lamentável, pois isso significa que ainda existe muito preconceito e muita falta de oportunidade. Nenhuma empresa ou entidade da minha cidade quis me apoiar, apenas a minha família. Minha mãe pegou as economias dela e pagou tudo. Por isso, esse título, que significa tanto para Cachoeira do Sul, tem também um grande significado para mim. Acho que ele vem mostrar que existem valores na periferia, que todos precisam de chances, oportunidades.

BB – Você representa um dos bairros mais pobres da cidade. No entanto, foi dele que saiu o título mais esperado pela comunidade negra cachoeirense. O que você acha disso?

Sirlei – Como eu disse, tanto no Bairro Cristo Rei, quanto em qualquer outra da periferia, existem pessoas que trabalham, estudam, lutam honestamente para sobreviver. Elas precisam de mais apoio, de mais atenção, de mais oportunidades.

BB – Você é descendente de quilombolas. Seus bisavós eram descendentes diretos de escravos. O que representa isso para você?

Sirlei – Orgulho. Tenho a honra de ser descendente de quilombo e se hoje estou aqui é porque meus antepassados sofreram, resistiram e lutaram. Essa conquista é deles também. Dos meus bisavós, que ainda viviam lá no quilombo de Cambará e que recentemente faleceram. A minha vitória é a vitória da comunidade negra. O título que eu conquistei é sinal de que a gente pode chegar lá. Acho que beleza e dança só não chegam, precisamos estudar e trabalhar muito.

BB – O que significou a dança da escrava, que arrancou tantos aplausos do público, em Santa Cruz do Sul?

Sirlei – É uma coreografia que lembrou a realidade da senzala. Mais não foi só isso, ela retratou também a força dos escravos, o trabalho e o sofrimento dos meus antepassados, que foram fundamentais para que a gente pudesse estar aqui hoje.

BB – Já caiu a ficha que você ganhou um título estadual?

Sirlei – Sim, está caindo aos poucos.

BB – Qual o recado que você dirige à comunidade negra?

Sirlei – Que nunca desistam, que estudem muito, trabalhem e lutem pelos seus sonhos. Nós somos capazes, nós temos talentos, nós somos belos e vamos chegar lá.

BB – Você sabe o significa do termo iorubá “axé”

Sirlei – Sim. Significa força. É o que desejo a todos.



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